CRÍTICA - PERDIDO EM MARTE


M
ark Watney é um astronauta participando de uma série de pesquisas em Marte junto com sua equipe. Por meio de circunstâncias ele se encontra sozinho no planeta e precisa encontrar meios de sobreviver durante anos esperando um resgate.
Matt Damon interpreta Mark, e está excelente. O personagem é muito inteligente, carismático e engraçado, e tudo isso reforçado pelo ótimo trabalho do ator.
Já que o personagem está sozinho em um planeta deserto, a forma que o filme tem de fazer Matt se comunicar com o público é com o "diário de bordo", que ele grava todos os dias. Sempre que um problema é apresentado, Matt o explica e apresenta suas soluções, e além de não ficar complicado, deixando mais acessível para o seu público, é bastante engraçado e plausível.
Um dos problemas é o excesso de personagens, o filme tenta dar espaço para todos, mas não consegue ampliar a relevância de todos. Por consequência, 65% dos personagens secundários acabam ficando desaproveitados.
Jeff Daniels, interpretando Ted Sanders, e Chiwetel Ejiofor, interpretando Venkat Kapoor, junto com Benedict Wong, são o maior apoio de Mark na Terra. Pode ser argumentado que Ted é o possível antagonista da trama, eu discordo, para mim ele tem o mesmo objetivo que todos, de salvar Mark, só que da forma que mais favoreça a imagem da NASA.
O personagem Rich Purnell, interpretado por Donald Glover, até tem a sua importância, mas a sua presença em cena é tão pequena que seria melhor se a sua  "parte" na trama fosse dada para o Kapoor. Ainda por cima o personagem aparece como sendo um alívio cômico, mas o humor do filme já está bem escalado sem ele, então ele, além de ser desnecessário, atrapalha o tom do filme.
A equipe de Mark, que está na nave a caminho da Terra depois de deixá-lo em Marte, é composta por cinco personagens, mas apenas três se destacam (reforçando o fato de ter personagens demais na trama): Michael Peña, Kate Mara e Jessica Chastain. Peña como Rick Martinez, amigo mais próximo de Mark e está bastante engraçado, Mara como Beth Johanssen, é a que entende mais sobre computação e Jessica como Melissa Lewis, que só contribui para o filme em ser a comandante, mas fora isso, não se destaca muito também.
O humor que constantemente alivia a trama pode incomodar um pouco para aqueles que esperam que Mark enlouqueça. Mesmo assim o filme proporciona diálogos e momentos emocionantes e pode ser dito que acaba sendo inspirador ver o personagem superar tantos obstáculos.
"Perdido em Marte" é um filme tocante, que celebra o conhecimento humano e a força de vontade, tudo isso reforçado por uma trama agradável, que mesmo não trazendo o pesar dramático com crises existenciais e etc, consegue impressionar o seu público.



CRÍTICA - EVERYTHING WILL BE FINE


T
omas Eldan é um escritor meio depressivo e anti-social que está passando por problemas criativos ao escrever seu próximo livro, e seu casamento está passando por uma fase delicada. Eis que ele se envolve em um acidente que torna tudo mais complicado de lidar.
Tomas é interpretado por James Franco, que faz um bom trabalho em mostrar ao público o quanto um acidente pode abalar o espírito de um homem, e o ator o faz com poucas palavras e olhares intensamente expressivos. O personagem passa por um desenvolvimento bem interessante, retratando o que um sentimento tão forte é capaz de fazer depois de anos sendo guardado, afetando sua carreira e a sua família.
Charlotte Gainsbourg interpreta Kate, a mãe que perde um dos seus filhos, a atriz está bem e transmite bastante tristeza e como é desnorteante passar por isso. Mas a personagem permanece apenas nessa interpretação, não se desenvolve muito além disso.
Rachel McAdams interpreta Sara, uma mulher que se preocupa com o seu marido e pretende formar uma família com o mesmo, mas ela tem pouca presença no filme, mesmo sendo importante, e o sentimento que fica é que a atriz não foi muito bem aproveitada.
O filme possui uma sutileza interessante, e recompensa os que prestam atenção nele. Por exemplo: se você não estiver atento para um diálogo, acaba perdendo explicações para uma situação futura.
Lembra um pouco o filme “Boyhood”, pois passamos por muitas fases da vida do escritor e da mãe, Kate. Os lapsos de tempo às vezes são passados claramente, imprimindo na tela “dois anos depois”, e outras vezes o filme só mostra que o carro do protagonista mudou, por exemplo, retratando que se passou algum tempo, deixando as coisas mais orgânicas.
A atmosfera depressiva paira sobre o filme o tempo todo, e as atuações são semelhantes para todos os personagens. Uma das únicas vezes que notei alguém saindo dessa tristeza foi em uma das cenas da atriz mirim Julia Sarah Stone, assistir a atriz sorrindo foi como ver o sol raiar depois de passar um dia na escuridão.
Verdade seja dita, temos aqui um drama muito lento e não é para qualquer um. O tom é o mesmo do início ao fim e sem momentos grandiosos.
O arco de Tomas com o seu pai não foi bem explorado, a meu ver, foi só para reforçar mais o drama, mas acabou ficando desnecessário.
O maior problema do filme é a trama, que é vaga. Talvez se o personagem principal fosse o menino que perdeu o irmão a história seria mais emocionante e dramática, mostraria a tristeza por perder alguém tão próximo, a raiva em ler os sucessos que o Tomas fez depois do acidente e ver que isso influenciou os seus livros, o quanto a desatenção de um sujeito abalou sua pequena família, e etc.
Concluindo, “Everything will be fine” é um drama para um público paciente e que esteja disposto a acompanhar uma longa história sobre tragédia e uma lenta recuperação. Recomendo, mas não espere por chorar e nem um sentimento de esperança.